“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia.”
Hamlet
Voltei, fui ali morrer, mas já voltei.
Estava bem. E de repente deixei de estar. Num momento estava a caminhar pelo parque, com a E. e com o Pong. E no outro estava entubado e deitado numa maca meio inconsciente e a sentir-me terrivel.
E agora estou bem. E pronto para viver mais e melhor. Assim é a vida, cheia de mudança.
A morte é assim. Assombra-nos, mas transforma-nos, se a deixarmos.
Descobrimos a fragilidade da vida. E a nossa insignificância. E a nossa giganteza.
É só deixar essa morte, que transforma, transformar-nos. E aceitar que o que vem é melhor do que o que foi. É sempre assim. Enquanto há caminho, temos de o caminhar.
Estava vivo. Mas agora estou mais!
Foram preciso muitas lágrimas. Medo. Temor. Solidão.
E descobrir que tudo podia acabar. Chorar por perceber que ainda queria viver tanto e fazer tanto e que podia não chegar lá.
E aceitar isso.
E muito amor de todos os que me rodeiam. E em especial da E. e da Cecília, ao vivo e a cores. E da minha mãe, do meu pai, e de todos os que estavam longe e perto ao mesmo tempo.
Morri. E renasci. Tenho sorte.
E com a minha morte descobri um pouco mais sobre mim. Sobre a minha fé. Sobre o que importa. Sobre o quanto amo as pessoas da minha vida, e em especial a Cecília.
E o quanto ainda tenho para fazer. E o tanto que quero mudar e levar-vos comigo nessa viagem.
A morte não é o fim. É um convite a uma mudança que é inevitável.
Tudo muda. E se queremos o melhor temos de aprender a dançar. Porque a vida é uma canção. E todos podemos escolher. Ficar sentados; bater o pé; ou dançar alegremente.
PS: Há muito tempo disseram-me que para ser um bom terapeuta era necessário olhar de frente para a nossa própria morte. Talvez este seja mais um passo importante nesse processo.